Que fim levou o velho trance?

As transições que o trance sofreu no Brasil

Author: Nathalia Birkholz
Date: Apr 5, 2006
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Em qualquer lugar onde esteja presente, a cena eletrônica tem suas idas e vindas de estilos e tendências. A modificação de suas vertentes é inevitável uma vez que, ao contrário dos outros estilos musicais, a eletrônica é consumida muito rapidamente. E é a partir dessa constante absorção musical que DJ e produtor estão sempre atrás de novas batidas e referências com a intenção de inovar cada set e estar sempre surpreendendo o público.

Por outro lado, essa constante demanda de novidades também tem o seu lado negro para muitos dos defensores de determinados estilos eletrônicos. Os principais pontos negativos são a queda do mercado e a esfriada da cena.

Atualmente quem está passando por esta má fase é justamente o pai de todas as suas ramificações: o trance. Esse tipo de música apresenta uma construção de altos e baixos, em que momentos de euforia se misturam com pegadas dramáticas ou sentimentais, mas sempre passando muita emoção. O trance se desdobra em diversos estilos, sendo o hardtrance, acidtechno, technotrance, goatrance, psytrance e outros. Os três primeiros, como diz o próprio nome, mantém influências do techno com timbres fortes e também se incluem, junto com o seu precursor, na lista das vertentes que já tiveram sua fase áurea e decaíram.

De alguns anos pra cá, o psytrance domina o mainstream e se mantém como uma das maiores (senão a maior) cenas eletrônicas do Brasil. São inúmeras festas e festivais, selos e gravadoras especializadas e principalmente um número cada vez mais expressivo de adeptos. Isso tudo faz com que qualquer referência ao trance se torne, para muitos leigos hoje em dia, referência única ao psy.


Mas aonde foi parar o trance com suas pioneiras vertentes pesadas?

È claro que tanto o trance quanto o hardtrance, o acidtechno ou o technotrance não morreram. Mas ao olharmos para trás em 1997, quando a cultura eletrônica ainda estava aflorando no Brasil e mais especificamente em São Paulo e imediações, esses eram a bola da vez.

O DJ Jason Bralli, um dos que acompanharam o início da cena no Brasil comenta: “Já tivemos épocas melhores... o trance no Brasil teve seu grande ápice por volta de 1999 até 2001”. E foi exatamente neste período que se consolidou como uma das mais importantes vertentes da música eletrônica. Bralli, que nos primórdios era conhecido como DJ de trance (hard/technotrance) hoje prefere dizer que toca “um mix de tudo que vem a ser boa música, sem rotular”. No entanto, em seus sets ainda encontramos certa influência do estilo que o marcou na cena.

Já a psicóloga e ex-freqüentadora assídua de festas raves, Alice Faustino, se mostra desapontada com o trance e suas festas atuais. “Eu gostava do trance, mas enjoei... naquela época em que tocavam todos os estilos de som nas festas, era novidade todo mundo gostava, hoje a galera não curte mais o trance e foi migrando para outros estilos”. A época citada por Alice foi justamente o ápice das festas rave e do trance no país, já citado por Bralli.

Subitamente, por volta de 2001 a cena tranceira foi perdendo espaço para a psicodélica. Uma possível hipótese para esta substituição de sonoridade é a de que, segundo Bralli “as festas e raves de trance no Brasil, começaram sem base em nada, com estrutura precária e muita dificuldade. Com o passar do tempo foram se profissionalizando e fortalecendo e quando surgiu o psy, seus organizadores já tinham uma visão mais ampla e profissional sobre as festas”.

O DJ e Produtor Gonçalo Vinha, cabeça do projeto NUDE de trance afirma que o estilo não morreu, mas reconhece que “infelizmente o trance no Brasil teve um ´boom´ e não aconteceu efetivamente, a cena poderia estar forte como é no exterior”. Como conseqüência os DJs de trance do Brasil migraram para outras sonoridades tirando o trance do foco principal de seus sets e procurando mesclar com outros estilos.

Outra hipótese levantada desta vez por Gonçalo a respeito da queda da cena é que “a mídia no Brasil não ajuda muito. Enquanto os Djs de trance passaram para outros segmentos, a internet vivia o boom de sites especializados em psytrance, isso deu a idéia errada de que o trance tinha morrido”.

Quanto ao mercado do trance, este também não está em sua melhor fase. Muitas lojas que já trabalharam com o estilo na fase 1998-2001 não recebem mais discos e CDs como a Rythmrecords ou a Technorecords, fortes pontos de comércio eletrônico que importam e distribuem em todo o país. Adriano Silva, dono da Technorecords explica que “no período de 1999/2000 a loja vendia bem os discos de trance, hardtrance e acid”. E ainda completa explicando que “no Brasil inteiro este comércio deu uma boa esfriada enquanto que os lançamentos das outras vertentes eletrônicas ainda mantém o mesmo nível de tiragem”. A Intergroove que entrou no mercado em 1989 é, de acordo com Gonçalo, o nome que trouxe o hardtrance e o trance ao Brasil, tendo alcançado um filão de mercado inexistente até então. A loja é de seu irmão, Ruy, mas o Dj e produtor explica que “muitos DJs de 1998 a 2002 compraram material lá e a loja ainda aposta no mercado, hoje o trance(principalmente o psy) corresponde a 70% do faturamento”. No entanto, fica claro que é preciso estar atento para todos os estilos que estão chegando, para não se prender. “Procuramos também apostar em novos segmentos”, explica.

Modismos ou não, fica claro que o trance não morreu, mas evoluiu. A cena de cinco anos atrás não é a mesma de hoje, mas o trance aparece mesmo que acompanhado por algum outro estilo musical. Jason Bralli conta que “Hoje ainda temos muitas festas, ótimos DJ`s, e público fiel ao estilo, porém em menor proporção”. Ao seu ver, a “música nunca chega ao seu fim, ela pode estacionar, amenizar, é tudo meio improvável, quando menos você espera, pode estar de volta com força total”. Gonçalo ainda completa afirmando que “todos os estilos passam por reciclagem”.

Sejam a acelerada renovação do estilo, o anseio do público por novidades, a falta de divulgação ou a própria mídia os culpados pela grande esfriada na cena ela está aí. Clubes como o Manga Rosa (SP), Anzú (Itu), Ibiza (SC), Sarajevo(SP) além das festas do núcleo EnergyBr em SP e em outras cidades do Brasil que tem enchido bastante. Uma dica bacana trance é o festival CORSA LÁ que acontece no dia 03/09 em Aldeia da Serra no Kartódromo com três nomes de peso do trance mundial: Rank 1, Flash Brothers (live pa. e dj set) e Above & Beyound além do Lexicon Avenue que tocou no Brasil em 2004. O evento marca o lançamento do novo Corsa com amostras de tunning e test drives e explana a investimento de grandes marcas como a GM no trance.

(crédito: Nathalia Birkholz, publicada e gentilmente cedida por www.psyte.com.br)

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